domingo, 24 de maio de 2009

Cegueira...

- Pois bem, depois de mais uma longa e agreste noite laborar, na minha sacristia, depois de mais uma noite de encontros e desencontros, tristezas e alguns raios de luz, dei comigo só deambulando pelas ruas, avenidas e becos... Parti disposto a tudo, parti em busca de nada, apenas uma súbita e urgente vontade e desejo de me mexer...
Confesso... As noites cada vez são mais longas e dolorosas, já pouco mais do que a mera rotina me leva à prisão na qual me encarcerei e que chamam de fonte de rendimentos. Serviço rotineiro, pouco mais aprenderei em tal lugar. Histórias, caras, personalidades, personagens, acontecimentos são aos milhares... Já tudo me parece muito... Repetem-se, repetem-se as noites...
Pois bem senti-me contra-corrente, desenquadrado, frustrado, acelerado e aos poucos fui descartando companhias... Corri na esperança de encontrar quem queria, mas tal não se acertou com as estrelas... Parti meus amigos, parti para um mundo que é mesmo só meu, recentemente descoberto, indicado por figura paternal e raramente partilhado com companheiro fiel a tal viagem...
Em certo momento apercebo-me que forço a marcha, pergunto-me para quê, mas forço mais... sinto que algo me começa a acontecer.
No centro o tal combate interior, por fora apenas o suor e as lágrimas... Entro num vórtice de pensamentos cada vez mais fortes e rápidos.... O ritmo cardíaco aumenta, parece que pouco mais tem para dar, surge então um aperto no peito e milésimos de segundo antes de entrar em colapso..... algo acontece...
Voo... (não estou maluco, não... metafóricamente...) Sem espaço, sem tempo, sem o sentir chegar, algo sai de mim... Sinto-me vazio....
Que momento belo. Poder estar vazio.... Apenas eu com... nada!!! Exactamente isso.... Leveza de espírito, de corpo de alma...
Algo me invade... Ouço, olho, inspiro, sinto, paro... Fenomenal... ainda gostaria de saber que raio de substancia hormonal foi segregada... PAZ, meus amigos.... Paz, apenas!!!
Paz sem pensamentos, pedidos, sentimentos, confusões, desejos, anseios, complexos, compromissos.
Continuo a marcha. Escolho um passo mais sereno, lágrimas se soltam, mas de acalmia, esforços só o de me manter lúcido e no rumo traçado...
Dou comigo calmo, situação rara em minha alma, apenas a desfrutar de um isolamento forçado pelo corpo exigido pela mente.... SÓ!!! Sem som, sem luz, sem vibrações... Apenas eu.
À muito que ansiava por um verdadeiro momento de paz, mas ainda não tinha chegado o seu tempo.
Pois bem, o saco encheu... Rebentou de um modo tão satisfatório, tão reconfortante.
Olho nos flancos e apercebo-me de onde estou, onde cheguei... Agora é só regressar. Mãos nos bolsos, cigarro pendurado, viro costas ao infinito... Os pés mandam em mim. Caminham decididamente como se de esperança estivesse preenchido.
Mais tarde, já na viatura, sintonizo o auto-rádio numa estação aleatória e surge-me um cliché... 125 Azul, interpretada por Trovante!!! Intervenção divina ou não...
Lembro-me então de triviais momentos da noite:
- "Desculpe, mas o senhor faz-me lembrar Rui Veloso.."- dizia-me uma paroquiana abraços com recente crise conjugal... Divórcio, mais um caso perdido...
- " Não se preocupem, o homem é o homem dos cordéis... " - dizia-me um rapaz no alto do seu estado embriagado.
- " Marionetas, é mais adequado!" - responde colega em igual estado...
- " Confirma, lembrei-me no outro dia que és tu que preferes mulheres discretas? Explicas?" - pouco tenho para explicar, pouco a ensinar...
- " ... não sei... és complicado e esquisito... tu é que tens de escolher..." - respondia-me prontamente uma amiga...
- "...já viste? Em apenas uma hora? Aprendeste? Foste tu... não eu..." - dizia "o outro", referindo-se a ganhos, estratégia, poder de controlo e coragem aplicadas...
- " Meu amigo, já sabemos... É menina!!!!" - olhos mais felizes que aqueles não vi em toda a noite...
Começo a achar que será uma conjugação cósmica... Tudo prefeito, sereno, calmo e radiante. As memórias surgem com cadencia regular, límpidas como água... Ou é piada de Deus ou algo vai acontecer...
Já é dia a algumas horas quando meto a chave na porta, rituais cumpridos, corpo refeito, subo para os aposentos e decido arriscar...
Filme...
"Blindness - Ensaio sobre Cegueira"
Como diz um amigo meu, "lá está..."; só pode ser mesmo uma piada divinal...
Incrível obra. Rendo-me a Saramago... Adaptação cinematográfica impecável. Actores adequados, uma banda sonora a condizer e argumento fatal...
Fiquei deveras admirado com tal obra. O homem tem razão... Como a cegueira nos limita a vida e a visão da mesma... Pergunto: Sempre é rei, quem em terra de cegos tem um olho? Mais, serão realmente felizes os ignorantes??? Pois bem, isso depende da experiência de cada um de vós, mas recomendo a todos o visionamento de tal Cegueira!
Julgo que sou cego de cegueira...lol... Deixo-me cegar, deixo de ver, sinto que apenas eu me limito. Tal, será o problema?????
Juntem a isso (bem sei que não vos é possível) o combate ideológico de noite passada, frases soltas proferidas sem intenção, peregrinação de absolvição.
Tudo é relativo. Apenas cada um de nós sabe que ligações fazer, a que momentos e de que jeito, mas para mim, digo-vos: ESPERANÇA!!!
É o que resultou. Esperança é um sentimento do qual pouco sei, mas que parece que no momento me enche a alma. Bons ventos se avistam no horizonte, ou apenas um bom estado de espírito...
Meus olhos pesam, os dedos estão doridos. Tenho a alma cheia, mas o sono não perdoa... Até breve...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Dificuldades de expressão... Ou não???

- Ora boa noite ou dia, depende... Apresento-me humildemente diante do meu próprio reflexo para deambular sobre os mares das amizades. Aqui vamos nós...
- Premissa principal: Valorizo mais quem (sem papas na língua) me diz directamente, honestamente, frontalmente o que pensa mesmo vá contra a minha linha de pensamento, mesmo que eu não goste de o ouvir. Se eu gostasse de apenas ouvir o que gosto ou comprava um gravador ou arranjava um cão (eu até tenho um gato), para me adorar...lol...
- Premissa secundária: Amigos falo dos do peito, são poucos, mais falem por milhares de inúteis conhecidos....
- Situação: Mais uma das infindáveis conversas "andantes" com tal companheiro. Confesso que é dos poucos prazeres intelectuais que me sobram. São sempre conversas reconfortantes, estimulantes, desafiadoras do espírito e bastante produtivas...
- Problema: Ai a porra.... Tu queres ver... Das duas uma, ou a minha linguagem é encriptada ou não tenho mesmo razão em nada, o que me leva a pensar (e não assumir) que porventura terão razão os demais...
- Explanação teórico-pratica: Fui acusado de alguns características (o ser humano não tem nem qualidades ou defeitos pois tal está somente nos olhos de quem vê) e vicissitudes de personalidade, as quais não são desconhecidas aos meus ouvidos. Não me atrevo a refutá-las, pois resta-me apenas engolindo o meu orgulho (não é a todos...), confirmá-las!!!
As ditas são:
- Preguiçoso
- Conformado
- Cobarde (mais ressente e interessante)
- Desprovido de ambição
- Medroso
- Complexo de inferioridade
- Incapaz de mudanças
- Cego
- Repercutor de catástrofes...
- Horizonte curto

Tudo verdades, não o nego, mas exijo uma contra-argumentação. Tal é me permitido... Não, não pensem que é um modo elegante de fugir ás responsabilidades, de atenuar as ofensivas ou de me esquivar ás respostas. Em dita contra-argumentação tento apenas justificar tais acusações, esclarecer os eventos/acontecimentos catalisadores das mesmas, provar/demonstrar os suportes para as atitudes e reacções de que sou confrontado, tentando entender (ao ouvir-me a mim mesmo) que raio de mecanismos psicológicos uso, ferramentas disponho, de modo a poder ajudar-me a mim mesmo. Traduzindo, deixa de ser um diálogo a dois para passar a intervir o meu... Alter-ego??? Eu próprio??? Ou sub-dimensão do meu ser??? Sei que apenas é assim comigo, de modo a poder ter ver-me de fora e ter acesso a mais informação.
Confesso, giro é mesmo quando me apanho a tentar enganar-me ou desculpar-me a mim mesmo... Surge um misto de piada com tristeza... Continuando...
Então, no decorrer da conversa, chego a conclusão que nada faz sentido. Vamos por partes...

- Preguiçoso?: Verdade... sem comentários...
- Conformado?: Verdade, método de esquivar-me à depressão...
- Cobarde?: Verdade, mesmo, mesmo sem comentários...
- Desprovido de ambição?: Errado, falar para quê, se não as demonstro...
- Medroso?: Sim de quase tudo quanto me é desconhecido, diria antes cauteloso...
- Complexo de inferioridade?: Sem margens para dúvidas... Porquê? Isso é para ouro post...
- Incapaz de mudanças?: Verdadeiro; "E se correr mal, para onde me viro???"...
- Cego?: Por vezes de vontade própria, outras casuais, outras cegueira completa....
- Repercutor de catástrofes?: Verdadeiro, ponto...
- Horizonte curto?: Diria faseado...

Blá, blá para cá, blá, blá para lá e o homem sai-se com esta: - " Meu amigo, assim, como já deves de ter reparado as pessoas abandonam-te..."
- Mas tu queres ver??? Isso não é novidade, mas pensava eu que "as pessoas" ficavam quando a tormenta vem. Nunca abandonei ninguém... Mas pelos vistos sou eu... Bem, por mim melhor, contamos mesmo só com os que ficam....
- " Não meu amigo, TU é que tens de fazer mais e melhor por ti mesmo!!!"
- " Tens de querer mais e melhor por ti..."
- Mas tu queres ver??? AI A PORRA!!!! Mais como? Melhor como?
Bem no meio de argumentos e contra-argumentos (estes sempre correctamente refutados) abro o jogo e depois de algumas horas, permito que tal personagem volte a mergulhar na minha dimensão infinita, apelidada de: Emocionalidade psicológica intrínseca à psique do ser humano... Qual quê, isso foi um erro estratégico; não abrir o jogo, mas "usar" tal como contra-argumento. Daí o : Dificuldades de expressão... Ou não??? Segundo tal individuo (hihihi, se o homem sabe que o descrevo como individuo... lol), e componente emocional não entra para as contas. Perdoem-me mas para mim tudo tem uma componente emocional, até um café... Prontamente aceite pela parte em questão.
Vai dai e troca as voltas ao discurso (digam lá se isto não é dar luta, parece um salmão preso nas garras de um urso esfomeado prestes a almoçar...), se então eu conto com a emocionalidade, devo de a usar como motivação...
Para tudo... Afirmação mais que justa e correcta. Não existe mais assunto...
Mas... Mas e se tal emoção ao invés de motivar apenas congelar movimentos e reacções ao individuo??? Pois.. Existe sempre uma merda de um mas...
Ora, segundo a minha pessoa, já chegamos lá... Nada disso. Problema meu.
Agora começa a coisa.
Todos sabemos que os pensamentos e somente estes, conduzem a emoções. Logo se controlar-mos os pensamentos...
Pois bem. Tudo fácil no papel. E ferramentas mentais para tal auto-controlo? Já me fogem tal recursos...
Aqueles que me conhecem (não comecem, pois eu sei quem são e são poucos), sabem perfeitamente que não é dessa massa de que sou feito. Sou feito de uma mistura frágil de emoção e racionalidade. Não prescindo de nenhuma em troco da outra. Não nasci para ser somente racional. Assim não sinto...
Problema? Sinto em excesso... Peco por esperar depois de resposta racional ás questões, uma confirmação emocional. Eu sei, agora deixar que tal me imobilize???? Tou furioso... Como combato isso? Se puder controlar melhor a emoção, parto do princípio que será mais fácil racionalizar e prosseguir a marcha, não?
Continuando. - " Pois bem, meu amigo, isso é um tópico do qual não te posso ajudar..."
Sinto que quando Deus me programou, deixou isso de lado (RECLAMAÇÃO para DECO) na esperança que eu chegasse lá. Merda, e agora onde vou buscar esse up-grade? Como me vou auto-programar? Faltam-me essas bases. Sei bem porquê, mas isso é só meu!
Bem matando a coisa, a conversa foi boa, mas volto sempre à casa Partida. Vou vendo o mundo evoluir, progredir, sinto-me a morrer, e definhar ficando cada vez mais isolado, afastado e perdido.
Se quero reagir? Claro que sim, mas tamanho handicap, é difícil... Luto apenas para não regredir e não me afundar...
Sinto que tudo isto é mera conversa de adolescente, fora de prazo, conversa bolorenta, batida em mesa de café no meio de cigarros ainda proibidos.
MERDA, MERDA, MERDA...
ACÇÃO é o que se pede e menos conversa fiada...
FOGO Á PEÇA!!!



quarta-feira, 20 de maio de 2009

Neurose atroz e incapacitante...

Um dos meus fados é este...
Incrível, existem argumentos mais originais, mais complexos, menos elaborados, mais demoníacos mais divinais, uns interessantes outros banais, eu sei de tal, mas este por agora é o meu argumento.
TRISTE FADO, SERÁ MESMO?????
Apenas porque o permito, para tristeza minha!


Grito Surdo
Choro por todos os poros;
Grito Mudo

Meus Olhos gritam AJUDA!!!
No abismo do olhar
Apenas: SALVEM-ME!!!

No silencio das palavras
Surge a resposta
Apenas: Eco

Grito Surdo
Choro por todos os poros;
Grito Mudo

Nos movimentos exaltados
encontra-se a pista
Reacção física traduz-se explosiva

Sereno fica
O Homem urge em parir a mente
Rebenta a Bomba...

Grito Surdo
Choro por todos os poros;
Grito Mudo

Frases sem nexo
Palavras vãs e desprovidas de lógica
Batalha mental instala-se por fim...

Guerrilha emocional
Convencional racionalidade
Desfecho previsível

Luta entre desiguais forças
Partes integrantes do mesmo ser
Que se desagrega, desmorona lentamente...

Grito Surdo
Choro por todos os poros;
Grito Mudo

Mortos, feridos???
Só mesmo a mente e o coração
Assenta a poeira do combate

Resta... A dúvida
Essa, sempre latente
Imortal e nefasta

Grito Surdo
Choro por todos os poros;
Grito Mudo

Espaço universal
Tempo infinito
Retoma-se o confronto

Repetição infinita
Consumista de calor e forças
Então revela-se o véu

Grito Surdo
Choro por todos os poros;
Grito Mudo

Tempestade neurótica
Apenas uma resolução
Abraça-la!!!

Respiro-a, vivo-a, desfruto-a
É luta perdida combate-la
Apenas um fim: SOBREVIVE-LA

Grito Surdo
Choro por todos os poros;
Grito Mudo

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Nota Introdutória

- Dizia-me no fim de tudo: "Ai e tal... E porque não, expores tudo isso num blogue?"
Tal questão assombrou-me por tempos...
Aqui vai disto meus amigos, (botões, cigarros e finos incluídos) e ilustres desconhecidos...
Veremos onde e como esta estradas me levará...